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Biomas do Brasil: diversidade, saberes e tecnologias sociais

Saiba mais sobre o tema da 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
Por Tereza Amorim Costa (Museu da Vida Fiocruz)

O tema da 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, definido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, relaciona ciência e tecnologia à preservação da riqueza natural e cultural do Brasil.

O Brasil é um dos países com maior biodiversidade do planeta. Segundo o IBGE, o país abriga cerca de 1,8 milhão de espécies de seres vivos. A biodiversidade, ao mesmo tempo, habita e compõe florestas, campos, manguezais e outros ambientes naturais que constituem os biomas brasileiros.

Biomas podem ser definidos como grandes áreas com características – como clima e vegetação – mais ou menos uniformes. No Brasil existem seis biomas: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal (IBGE). O mapa a seguir mostra a localização original desses biomas.

Porém, desde o início da colonização do país no século 16, partes desses biomas têm sido destruídas e transformadas em ambientes criados por seres humanos (ambientes antrópicos), como cidades, lavouras, pastagens e estradas. Com os passar dos séculos, essa transformação foi cada vez mais intensa. Ainda hoje, áreas naturais continuam a ser desmatadas para dar lugar a novas ocupações humanas.

O Mapeamento anual de cobertura e uso da terra no Brasil de 1985 a 2023, produzido pela organização MapBiomas, revela que o país perdeu 110 milhões de hectares de vegetação natural neste período. As áreas naturais, que cobriam 80% do país em 1985, hoje representam apenas 67%. Mais da metade dessa perda aconteceu na Floresta Amazônica, em geral, para expandir áreas de agricultura e, sobretudo, pastagens. Os mapas a seguir revelam a distribuição atual de áreas remanescentes dos biomas no Brasil.

Figura 1: Mapa dos biomas brasileiros. Fonte: IBGE.
Figuras 2 e 3. O primeiro mapa indica as regiões com vegetação natural (em verde) no ano de 2023. Áreas antrópicas são representadas em amarelo. O segundo mapa revela como a destruição de áreas naturais avançou nos últimos 39 anos (em roxo). Fonte: MapBiomas.

Por que conservar áreas naturais?

Todos os seres vivos, incluindo as pessoas, precisam de água, alimento e outros recursos do ambiente para sobreviver. Os ambientes naturais renovam esses recursos constantemente. Durante sua vida, animais, plantas, fungos, algas, bactérias e outros microrganismos mantêm o “funcionamento da natureza”. Plantas e outros seres vivos produzem gás oxigênio, conservam o solo, regulam o clima e o ciclo das chuvas, por exemplo. Muitos autores comparam esses processos a “serviços” essenciais dos quais dependemos para sobreviver.

Figura 4. A manutenção do ciclo das chuvas é um dos inúmeros “serviços” realizados pelos ambientes naturais. Fonte: arvoreagua.org

A destruição dos ambientes naturais interrompe os “serviços” ambientais, causando consequências que se estendem por grandes regiões do país e do mundo. Os impactos sobre o clima incluem secas severas, períodos de chuvas intensas, alagamentos e alterações na temperatura média. Muitas vezes, esses impactos são mais intensos em países e comunidades pobres, com menor condição de lidar com catástrofes.

A destruição dos ambientes naturais ameaça também as populações tradicionais que vivem nessas áreas. A construção de grandes obras de infraestrutura, a expansão de áreas agrícolas e de mineração e afetam diretamente a subsistência dessas populações. Além disso, muitas comunidades lutam pelo reconhecimento do direito ao seu território. Como resultado, dezenas de línguas podem desaparecer, levando consigo conhecimentos sobre a biodiversidade e um patrimônio cultural incalculável.

A destruição dos ambientes naturais ameaça também as populações tradicionais que vivem nessas áreas. A construção de grandes obras de infraestrutura, a expansão de áreas agrícolas e de mineração e afetam diretamente a subsistência dessas populações. Além disso, muitas comunidades lutam pelo reconhecimento do direito ao seu território. Como resultado, dezenas de línguas podem desaparecer, levando consigo conhecimentos sobre a biodiversidade e um patrimônio cultural incalculável.

 

Saberes tradicionais e biodiversidade

De acordo com dados do IBGE, cerca de 212 milhões de pessoas vivem no Brasil hoje. A maior parte delas está nas cidades. Juntas, todas as cidades do país ocupam apenas 0,5% do território. Porém, o impacto causado pelas cidades vai muito além das suas fronteiras. Para abastecer as cidades e exportar produtos, muitas outras áreas são dedicadas à agropecuária, usando agrotóxicos, fertilizantes e grandes quantidades de água. As cidades recebem energia, água potável e materiais retirados dos ambientes naturais. Também produzem lixo e poluentes que contaminam o solo, a água e o ar.

Em busca por outro modelo de desenvolvimento, há um crescente interesse da ciência em conhecer os saberes e práticas dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Diversos estudos indicam que o modo de vida dessas populações contribui para a conservação da biodiversidade e a manutenção dos “serviços” ambientais.

Dados da organização MapBiomas mostram que as terras indígenas perderam menos de 1% de sua cobertura vegetal nos últimos 39 anos. Como comparação, áreas privadas ou com CAR (Cadastro Ambiental Rural) sem registro fundiário perderam 28%.

A obra Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil – Contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças, organizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) revela que, de modo geral, o desmatamento em terras indígenas e territórios quilombolas é menor do que nas áreas de entorno. Em outras palavras, os territórios tradicionalmente ocupados por essas populações atuam como barreiras ao desmatamento na Floresta Amazônica, no Cerrado, na Caatinga e na Mata Atlântica.

Ao longo de várias gerações, tais comunidades adquiriram profundos conhecimentos sobre os ecossistemas que habitam. Seu modo de vida baseado em técnicas sustentáveis de agroecologia e manejo dos recursos naturais combina a obtenção de alimentos com preservação ambiental. Além disso, são repositórios de conhecimentos sobre a fauna e a flora, incluindo usos medicinais de plantas. Em 1992, Convenção da Biodiversidade Biológica (CDB) destacou a importância das comunidades tradicionais para a sustentabilidade.

Cada vez mais, os conhecimentos tradicionais têm sido reconhecidos e valorizados pelos pesquisadores. A integração entre conhecimentos científicos e tradicionais é uma estratégia poderosa para o enfrentamento dos desafios ambientais globais e na elaboração de políticas públicas de conservação dos biomas brasileiros.

Agência IBGE de notícias. IBGE define bioma predominante em cada município brasileiro para fins estatísticos. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/40519-ibge-define-bioma-predominante-em-cada-municipio-brasileiro-para-fins-estatisticos. Acesso em: 9 set. 2024.

Agência IBGE de notícias. População estimada do país chega a 212,6 milhões de habitantes em 2024. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/41111-populacao-estimada-do-pais-chega-a-212-6-milhoes-de-habitantes-em-2024. Acesso em: 9 set. 2024.

Árvore Água. Como a floresta faz chover. Disponível em: https://arvoreagua.org/ciclo-hidrologico/como-a-floresta-faz-chover. Acesso em: 9 set. 2024.

Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS), The. Atmosphere Data Store. Disponível em: https://atmosphere.copernicus.eu/charts/packages/cams/products/aerosol-forecasts?base_time=202409090000&layer_name=composition_bbaod550&projection=classical_south_america&valid_time=202409090300. Acesso em: 9 set. 2024.

MapBiomas. Coleção 9. Mapeamento anual de cobertura e uso da terra no Brasil de 1985 a 2023. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/wp-content/uploads/sites/4/2024/08/Fact_Colecao-9_21.08-OK.pdf. Acesso em: 9 set. 2024.

Cunha, Manuela Carneiro da; Magalhães, Sônia Barbosa; Adams, Cristina (Orgs.). Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil: contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças. Parte 1 – Seção 1: Quem são, quantos são. São Paulo: SBPC, 2022. Disponível em: https://portal.sbpcnet.org.br/livro/povostradicionais1.pdf. Acesso em: 9 set. 2024.

Cunha, Manuela Carneiro da; Magalhães, Sônia Barbosa; Adams, Cristina (Orgs.). Povos tradicionais e biodiversidade no Brasil: contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a biodiversidade, políticas e ameaças. Parte II – Seção 5: Os territórios indígenas e tradicionais protegem a biodiversidade? São Paulo: SBPC, 2021. Disponível em: https://portal.sbpcnet.org.br/livro/povostradicionais5.pdf. Acesso em: 9 set. 2024.

Embrapa. Serviços ambientais. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-servicos-ambientais/sobre-o-tema. Acesso em: 9 set. 2024.